terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Záaaaaas




Penso mesmo que mulher é feita de chumbo,

chora só pra fingir que não é forte.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Entrefolhas.


"Antes de volver a dormirme
imaginé (vi) un universo plástico, cambiante,
lleno de maravilloso azar,
un cielo elástico,
un sol que de pronto falta
o se queda fijo
o cambia de forma."







MusicPlaylist
Music Playlist at MixPod.com


Visitar a sua cidade natal, mesmo que você a freqüente em 15 e 15 dias, pode ser um tanto estranho ou, quem sabe, perturbador, se, há mais de seis anos, alguns meses, outros dias e muitos segundos, você não volta àquele específico lugar em busca da pessoa, justamente, a pessoa, que já se sabe o desparadeiro. Quero dizer, ontem, isso, ontem, eu rumei pr'aquela bendita instância, buscando as respostas que conjeturam aglomerados de perguntas, desencontradas em qualquer outro posto avançado. E é esquisito como que, por mais que a cidade cresça, aquele prédio de finanças continua com o mesmo cartum desgastado de 30 anos, um bonequinho de nariz gorducho e corpo no formato de bacilo de Koch. Na verdade, esquisito é se lembrar perfeitamente como que, em torno dos 8 anos, adorava aqueles olhos esbugalhados que talvez me provocassem um riso frenético.
Hoje, não mais.
E as caras das pessoas, antes tão familiares, já o são tão disformes. Em seu conformismo, povoam as ruas, deformam a paisagem antiga que eu procuro. Procuro. Nada. Será que errei o caminho? Disfarço, olhando de rabo de olho nas placas das ruas, os nomes idênticos, tento me convencer que não, mas a rachadura, no canto esquerdo, no endereço da casa da rua principal, não deixa esconder o fato de que fui eu quem a causara.
Por incrível que pareça, perdida, no meio do subúrbio, existe uma mata particular, não tão densa quanto uma mata deve ser, mas mais densa que qualquer mata de significado. Atrás dos portões de madeira rústica, escondia-se um senhor e sua senhora e ao pé da cama uma dama da noite. Escondia-se também o senhor dele mesmo no meio de muitos livros. Escondia-se tanto que tinha receio de deixar a porta aberta, lá fora era só sua senhora, dentro, não era ele nem sua senhora, era capítulo, tinta, pólen e pena. Interno, podia confessar todos os pecados de quem quer que fosse, picá-los, despicá-los, misturando-se, enfim, aos sonhos. Sonhava com fragmentos de muita gente. Queria ser capaz de unir mundos, chocar mundos, fazer terremotos, mas para isso só tinha palavras. Signos de diferentes origens, tanto figuradas quanto geográficas, uniam-se em discursos sonoros da brisa que roçava as jabuticabeiras e amoreiras.
Cuidava da sua horta aos fundos como que dos filhos que já haviam crescido. Cuidava mais por esperança, as plantas tendem a nos obedecer. Embora gostasse mesmo era da bagunça, raíz que infiltrava por todo lado, folha seca que só o vento tinha permissão para levar, flor nova, flor jovem, flor passa, o tempo em tudo.
E eu ali.
Era o quê, meu Deus? Talvez me encarregasse de que as folhas não seguissem sempre a mesma ventania, trocando-as de lugares com meus pés de curto mundo. Talvez alguém que tinha muito medo e o matava de pouco para não fazer sangria. Talvez caminhasse com mais certeza de que hoje e só lamenta ter deixado velhos esconderijos, que de tão bons nem assim eram chamados. Eram mesmo seus segundos lares, enquanto que quem visse de fora mirava apenas uma menina quieta no meio de muitas, muitas, plantas e uma conseqüente reação alérgica que levava sua mãe à loucura. Podia ser empolação de tanto contato inseticídeo ou falta de pudor ao abrir uma porta no chão de um xalé, abaixo de um tapete vermelho com desenhos azuis, onde se escondia uma adega e muito mofo evidente.
E ontem.
Ontem, eu fiz questão de usar o sapato mais baixo, o short mais curto e a blusa mais cavada, só para ter a certeza de antes, ao me esparramar por aquela grama, em que cada poro à vista fosse irremediavelmente acometido por brisa, bicho, empolação, livro, mofo, adega, rubro de amora-madura, esconderijo, pitanga, pedras gigantes e lisas, o senhor e sua senhora. O que pode ser algo que o cartum de 30 anos remeta a uma pessoa ou um pé de figo invisível ou órion ou um endereço riscado ou um texto bobo feito esse.
É que, inebriados nisso tudo, ficamos nós entre o tempo.
Ficamos nós entrefolhas.


sexta-feira, 31 de outubro de 2008


y aquel que mira afuera
ni acredita
que aquí se guarde
las puentes
para más de dos mundos

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Até a terra dos medos (parte 1)


Sugar Rain...................Sugar Snow, upload feito originalmente por ƒreg.

"el uno en el pucho del otro, nos frotábamos con los ojos, estábamos tan de acuerdo en todo que era una vergüenza,..."


(o primeiro no resto do outro,
nos esfregávamos com os olhos,

estávamos tão de acordo em tudo

que era uma vergonha,...
)





Andava apressada naquela manhã chuvosa de novembro. O coque mal permanecia intacto e as mechas lisas teimavam a escorregar de encontro aos olhos. Nem tivera o tempo de mirar o amassado corriqueiro na barra do vestidinho branco. Ajeitou a cruz vermelha em chapéu e rumava para o asilo. Acordara tardiamente ou eram seus pés pequenos demais para o chão em tão curto enquanto. E esse guarda-chuva (!). Que guardava mais chuva que ela. Cada gota a fazia mover com maior freqüência, meio que a se enganar que chegaria límpida - e pronta o suficiente para não perder o emprego.

Agora via o portão entreaberto no qual a água ricocheteava, respingando no seu rosto. Preferia ignorar qualquer erro, pensou, quase tomando as grades azuis descascadas com o punho esquerdo. Menos aquilo. Um corpo, quase um homem, solapara no asfalto, arrastado pela jorrada, vindo bater na grade dois metros ao seu lado. Caminhou na sua direção. Sangrava, mas seus olhos continuavam absortos, não aparentava dor. Apoiou-o em seus braços e enquanto adentrava o asilo ele parecia não se importar. Na verdade, parecia mesmo nem notar a sua presença, como se ainda estivesse sendo levado pela chuva.

A sombrinha entrou guiada pela corrente de água no nicho que a porta aberta deixara, batendo nos pés de um idoso.

-Belinda, você voltou?

-Não, Serafim, sou eu! Preciso de ajuda, vá chamar os outros enfermeiros.

Ela pegou a maca já em desuso, devido aos mínimos acidentes que ocorriam, e o depositou. Guardou-o ali como se fosse uma caixa perfeita. Geometricamente perfeita. Olhou em seus olhos outra vez. Lembravam vidro. Será que havia perdido muito sangue? Não, Não... tinha certeza de que o trouxe o mais rápido que pôde. Foi chegando mais próxima do rosto, devagar... Encostou sua testa na dele. Piscou.

-Eu não sinto nada.

Esborrachou apavorada e desconcertadamente, ele tinha alma afinal.

-E só agora me diz que vive? Como não sente?
-Tenho CIPA, não sinto dor.
-Oras, mas supostamente você deveria sentir ao menos a pressão do toque.
-É, creio que minhas fibras de compressão atrofiaram ou de tanto só sentir esboço, esqueci de apontar o lápis outra vez.
-De qualquer forma, não sairá daqui até cuidar desses ferimentos... é.. hã...
-Ernesto.

A enfermeira sorriu.

-Os outros devem estar a caminho.
-Obrigado, Marcela.
-Por nada... Ah!Como sabe...
-Quem não sente nada, ao menos alguma coisa tem que enxergar.
-O quê?
-Seu crachá.
-Já tinha...
-Eu sei. Pode ir, não se incomode.

Saiu atrás do seu guarda-chuva, um tanto embarassada, sabendo que teria que ler novamente a mesma história para o Senhor Carmela. Já se estranhando, trouxe a esse asilo a entrada de duas almas - temporalmente avessas.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008


O silêncio da chuva. Começa com a primeira piscadela de uma gota para o chão. De pouco, indivíduo a indivíduo se esconde. Embaixo d'uma folha, dentro do tronco seco, num buraco, uma casinha de barro, paredes de concreto. Animal, monstro, homem, quando o friozinho do vento úmido chega, hiberna numa toca em busca de aconchego. O lado de fora vai ficando um tanto mais quieto, dança do abandono de água e ar. E quem se atreve a desbravá-lo sente o barulho do seu passo acompanhado. Para tanto, que sente que não emite som, nem chuva, nem vento. Sente mesmo é o barulho da calma; ouve no tempo um silêncio sem solidão. Quem tem coragem enxerga num vendaval, por mais danoso e urgente de fuga, um refúgio. Quando todos se guardam por dentro, ele se encontra na casca. E essa casca é a coisa ainda que não se vê povoada de som, é o silêncio da chuva e o carinho do vento. É o meu desespero esvaziado pela fuga do mundo. Esvaziado, o mundo, pela fuga do espero. Mas a corrente de ar não dá passagem, não agüenta, rasga, atravessa vestida de chuva. E eu?...

Dispo o vento.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

A-pesar


Nasser caminhava pelas vias do fórum em busca da mecanografia, precisava de cópias de um processo pelo qual indiciou uma empresa. No caminho, via sua imagem refletida nos espelhos do Hall, esse não podia ser ele. Lembrava-se fielmente dos lindos cabelos que escorriam pelo rosto, que agora haviam sido tomados por uma calvície irreparável. O que mais lhe incomodava eram as rugas, sempre tivera um rosto tão rijo, para onde ele foi?

Parou de súbito ao perceber que quase trombara com a fotocopiadora. Sentiu que finalmente solucionara sua charada existencial: queria ser uma fotocópia de quando era jovem. "Por que é mesmo que isso devia se perder?", indagou-se. A esposa já não era a mesma, nem mesmo os olhos, aquele brilho de recém-casados envelheceu com o resto do corpo, com a alma.

Semana que vem faria 50 anos de idade e 30 de casado, já com as cópias nas mãos, talvez devesse comprar uma jóia para Alin, ela merecia por ter agüentado este traste. Já não é mais tão bom na aparência, no conforto, muito menos no sexo, não sabia como ela suportara. Nem Nasser se suportava.

Teresa o interrogou no caminho de volta sobre algo que não deu ouvidos, talvez esse fosse o motivo pelo qual batia freneticamente na porta de vidro da sua sala agora. Abriu a porta. "Diz". Ela o fitou de cima em baixo, os mesmos sapatos, o mesmo terno, a mesma gravata surrada de sempre. "Eu não acredito que você se esqueceu..." Mas é claro que iria se esquecer da festa "surpresa" para aniversariantes do mês da empresa. Era sua sentença de morte, do quão mais próximo ficava dela.

Virou as costas, deixou Teresa gritar, deixou o escritório na lista de espera, precisava de Alin, ela sabia dele, de antes, do brilho fosco e envelhecido. Tomou o volante nas mãos, fez curvas bruscas, tais como as que nunca ousara fazer durante a vida nova. Abriu o portão, alcançou o quarto de hóspedes, ela continuava lá, naquela maca, imóvel, muda, com aqueles olhos absortos. Beijou sua fronte. Nasser sabia que ela não o via por fora, mas ainda inteiramente por dentro. Para ela, Nasser não tinha rugas, nem calvície, tinha saudade.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Precisa-se de

foto: http://flickr.com/narlik


tubarão disposto a me decapitar delicadamente conciso.

frizz: delicadamente conciso.



sábado, 11 de outubro de 2008

Em 1977

" Clarice Lispector: - O que mais lhe perguntam?
Lygia Fagundes Teles: - Eis o que me perguntam sempre: compensa escrever? Economicamente, não. Mas compensa - e tanto - por outro lado através do meu trabalho fiz verdadeiros amigos. E o estímulo do leitor? E daí? "As glórias que vêm tarde já vêm frias", escreveu o Dirceu de Marília. Me leia enquanto estou quente. "
(o Rodrigo merece ouvir isso)

~*~


terça-feira, 7 de outubro de 2008

Emanuelle



não desejou escorrer dos olhos dele
mas que culpa tinha?
se a partida goteja saudade.

domingo, 28 de setembro de 2008

olá, minhas caraminholas! (;

Não, não trago notícias da minha boa volta. Nem vou perder tempo dizendo o que vocês já sabem...
Trouxe mais uma mini-leva de poeminhas de bolso:


"
De Casco
Seja casulo ou carapaça
na cabeça do poeta
só existe um dilema
sem cruz ou espada:
asa ou caneta, eis a questão? "

~*~

"
Lamber o céu com o suor dos dedos

(Os Acordes de Deus) "

~*~

" O corpo movia-se tal como uma pena de chumbo, fomato de sonho e peso de realidade. Pé ante pé, a brisa viscosa escorria pelos seus dedos com frieza. Não era bom em avistar, mas ao longe um poste se apagava. Mania popular de achar que é mau presságio, Técio discordava. Preferia acreditar que um feixe de luz muito forte, provavelmente de um corpo estelar terrestre, atingira a foto-célula. Sua racionalidade lunática pensava que cada ser emitia feixes de luzes, alguns muito especiais, do tipo que só se encontram em nebulosas no meio do universo negro. Tinha ganas de desenvolver um foto-receptor só para alcançá-las. Se fosse possível guardar luz em frascos, catalogaria em código morse uma biblioteca inteira de áureas.

(ainda não sei o que fazer com isso no livro2) "

~*~

"Primeiro olhou para si naquela posição fetal, vasculhando a vida alheia feito criança curiosa. Depois o degrau. O seu número, mas não era seu nome. Será que podia... ou era evasivo demais? Já tocava as letras, antes mesmo de pensar se certo ou errado, tocava... To... ca... va...
Ilana se deliciava com cada canto de versátil aspereza, o cume ou vale de signos, que, confusamente, sentia que eram seus. Tomar posse ou não, no fundo somos todos uma salada, uma progressão de infinitos termos que se misturam aleatoriamente em seres que podem ou não se conhecer.
Bateu. "

~*~

Nada de superhiperultramegapowermasterblaster, mas é que achei que devia retribuir as visitas caridosas. (:

Recados:

-Evy:Flor, quando saíremos eu, você e o Rôs?

-Rôs: Continuo gostando dos seus comentários em branco.

-Solin: Como anda a leitura do livro? Espero que esteja entendendo, não pude te acompanhar como queríamos... Mande-me sinais de vida.

-Márcio: deep, deep. Desculpa minha ausência. Continuo estocando o feijão, bróder. Nosso pf não vai ficar sem haver.

-Odranoel: Querido, obrigada pelas recentes visitas. (:

-Luiz Felipe Leal: É um prazer te ter no blog, mesmo com duas palavras. hum! Tenho uma leve e consistente impressão de que conheço a música do seu site de verbo reflexivo. Achei bonito o espaço. Lau disse que estava em busca de material, vou mandar umas edições de jornais próprios e amigos, todos independentes. Espero que goste.

-Paty: Volte sempre. (:

-Anônimo: Seria muito óbvio perguntar quem é, certo? Muito grata.

-Luna:Uma flor para você.

-fantasmas: "Eu seeeeei que vocês ainda me habitam", berrou coloridades, o blog-aprendiz.

sábado, 14 de junho de 2008

o lírio e a porcelana

foto: angelo grace

todo dia me enchiam com água para que ele pudesse descansar
esperava que se suas pétalas não caíssem, eu teria seu aroma sempre
mas tive não
esqueceram de colocar mais água e o que havia secou
foi estranho
eu continuei perfumada por uns tempos
até que... sumiu
o lírio morreu e pediu pro vento levar o perfume
desde então
toda dia eu imploro por água
e toda noite que o vento volte
mas parece que ventanias não ouvem porcelanas.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

(ana)bela adormecia



procurava na cama um amasso de destino
no embaraço da colcha voava em segredo
aspirando flores de pétalas de algodão
mas ao acordar deixou os sonhos enrolados
um a um pela fiandeira do virol
e em seu pescoço a fragância de ter adormecido

.profundamente.
e acordado
na superfície
do livro de contos de fadas

domingo, 27 de abril de 2008

... joga-me a corda?


acorda esse laço
discorda esse traço
mas, por favor,
dá-me cordão e compasso
e laça meu jogo trêspaçado.
{nó}

terça-feira, 15 de abril de 2008

aviãozinho pro rafael

fui pro pensol.

@;

na saúde e na doença



o templo que construo é meu e dos trinta mil egos de cada noite
e, se assim couber, é o único compromisso que atenho a cumprir
eu e os trinta mil egos, decifrando as derivações formais do céu de isopor
e quantas borboletas houver no lençol
e quantas idéias houver no pensol
.
'

quinta-feira, 10 de abril de 2008

(poema paleozóico)


e as minhas estrelas caídas sobre o chão tentam germinar.

quando é dia, as rosas ofuscam o seu brilho, mas a noite sempre chega...

mostrando que a verdade está em nichos que a luz oculta

e a escuridão enxerga.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Abner e Katy


(diz uma menina que
abraça o violão
quando tem
saudade)

Era mais meu amigo do que instrumento. De vez em quando, eu o usava para sustentar o vazio, mas na maioria das vezes ele sustentava sinfonias. Guardava no calor todos os sons entendíveis apenas por um violão. E no sorriso, o arranjo perfeito entre as minhas mãos.
Era homem.
Tinha o corpo calejado, cheio de defeitos e a história pelo meio. Carregava no peito uma partitura. Não sabia se em sol ou dó.

Avistei cantarolando em meu caderno um piano rubro.
Delimitava em fá's mi-lá-si-ando.

(aaai, eu vou terminar, juro.)

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Cara

eu queria falar com você. não. eu não queria falar nada. eu queria que você me olhasse outra vez com aqueles olhos de que entende tudo. de que me entende tudo. e risse dessa minha teimosia em tentar achar resposta pro que não deve ter. queria mesmo era te guardar do meu lado de um jeito menos conotativo. e que não houvesse mais com quem eu gostasse de conversar só porque me lembrava você. haveria você. menos quases. você. engraçado, chega a ser quase patético, como eu ainda teimo em buscar as palavras certas pra te dizer o que eu não sei. e você aí, parado, nesse porta-retrato da minha estante. rindo. será que ri? eu queria que o riso continuasse. e chegasse no fim. em vez desse riso infinito em que eu não te tenho mais. queria um em que eu fosse o motivo dele e outro fim. e outro começo. mas parou. bem no meiozinho. não tem fim, nem começo mais. e eu tento te dizer todas as palavras certas, porque... só me restou o seu silêncio. tão cheio. e eu preciso te catar nele. feito uma peregrina cega no meio da selva amazônica, sujeita a qualquer tipo de precipício. eu vou descascando tudo feito cebola. e choro. bem baixo. de vez em quando até a lágrima briga pra não descer e não incomodar o rosto. você não ouve. eu tento me iludir que é porque o som é muito baixo. queria te perguntar se aí faz muito frio, mas não sei se existe aí. na chácara ventava tanto. tem tempo que eu não me vejo ventando por lá. alguém podou as árvores. elas cresceram de volta. a verdade é... aqui tá uma merda, cara. deixa esse retrato, faz favor.
...
por favor, não comentem esse texto.

tentou escrever muda


mas rabiscar era o grito
que revidava na face
do som que engolia.

Televisão combate disfemismo

Ah, se quer saber mesmo, discordo. Discordo, porque achar que tevê dita a ordem na cabeça de toda a gente, entre os plim-plins e o sofá das casas bahia, é o mesmo que negar que não existe acordo com a vida medíocre que se leva ou que se é obrigado a levar. Não, não existe isso de que a qualidade televisiva é péssima apenas aqui, Brasil, país-sub. Para ser franca, os programas de alto ibope são sempre porcalhões em qualquer canto e sub-espaço do mundo. E, casos vocês se interessem pelo motivo, experimentem passar um dia inteiro observando as pessoas com quem convivem. Elas estão sempre preocupadas com a conta do aluguel, a janela que emperrou, o casamento que não chega e aquele que não vai bem, a roupa da festa do sábado, ..., não é mesmo? No final das contas, compras e causos, todas precisam de um placebo, algo que as faça esquecer que o chefe talvez corte seus salários, a moça da esquina teve um caso com o marido da outra e todo o resto da vida imperfeita que levam. Aí a televisão entra, enviando vibrações ilusivas, vidas perfeitas, romances que terminam sempre felizes, assuntos chocantes, os babados dos famosos... Seria isso ruim? Respondam-me vocês. Sentadas, elas recebem uma nova vida tão perto e tão distante da que levam. Mas não há o que mudar, precisam e cada uma delas, mesmo que seja inconsciente, sabe que precisa de ser vendida, ser comprada, receber notícias pelas metades, a realidade sob um ângulo econômico... Desse jeito eufêmico, porque a realidade crua é como nudez em praça pública, vulgar demais. Para quem diz que não assiste programa algum, vale dizer que não é mais privilegiado. Faz parte do grupo dos que se olham no espelho e não sabem de onde vieram as cincunstâncias do mundo em que se encaixam. Não estou defendendo a tevê, ela manipula, sim, mas apenas quando seus espectadores pedem para serem dominados, o que acontece na maioria dos casos. Verdade é, o eufemismo é bom, mas na dose certa: não dá para ignorar um peladão na praça pública, só porque na televisão isso é nu artístico.

segunda-feira, 31 de março de 2008

Caramel




Carmelita ia com seus sapatos cor de mel
caminhando pelas ruas de papel
com seu sotaque carmel de deixar de dó
e toda avenida quase se suicida de tanta corrida
por seus olhos camelos, vagarosos sujeitos
perto dos cabelos caracóis, georgóis dos céus
fazendo pose de beldade bebendo na cidade
ia seu sotaque rouco roendo a puberdade
e se perguntando, o que é realmente a felicidade?
nessa festa via o mundo todo besta
com rabo de coelho e nariz de elefante
montou foi num camelo a procura do azul rinoceronte
girando pelo globo, Carmelita tropeça em caracóis
e pergunta, por que sois sóis tão amarelos?
sem saber onde que começa ou finda
ela caminha em busca do Senhor Caramelo
que de tanto doce saiu testando todo sal da terra
e por essa vida todo mundo quase grita
essa menina Carmelita e seu camelo caracol

domingo, 23 de março de 2008

Ele


carregou o sol nas mãos. carregou o mundo inteiro e mais um pouco de tão leve. queimando, a estrela brincava de roçar luz pelos seus dedos. ele inspirava o vento solar, expirava ar cósmico. guardava o momento sem a pressa, sentou ao chão, abriu o peito, deixou-se, invadido pelo nada. pelo tudo. era sol, estrela, nada, tudo. carregou-se para fora e repousou as mãos para cima sobre os joelhos, esperando ser preenchido. roçou-se com luz. invadido, joardo brincava de sol. joardo era sol, estrela, nada, tudo.

só queria maçãs



foto: Cristian Phillips
edição: Carol Stieler
url: http://flickr.com/photos/wing-it/ ou http://flickr.com/photos/dustflow


disseram que eu devia me deixar em paz. abocanhar o seu prazer e me esquecer. imagino tentar testar meu sexo sozinha. imagino carregar o prazer com pilhas. é tão sensual ser só hoje em dia: posso carregar meu amor com meu cartão de crédito. até onde você me carregaria? no seu bolso, no seu gozo, nos seus olhos? qualquer um seria mais. mais do que eu chego pedante ao prostíbulo da esquina e peço o mecânico. mais. fruto proibido. de tão livre se perdeu. na época dos bacanais ainda podia ser chamada de desvirtuosa e amaldiçoada. hoje eu só queria maçãs. mas até elas estão no supermercado.

para que os hormônios não me tornem parcial,


não sou uma mulher que costuma ter tpm. na verdade, eu me sinto até meio macho, quase não fico menstruada. é, sério. tenho algum tipo de problema hormonal (que não sei falar o nome)(e que fique claro que biologia não é meu forte), que me deixa meses e meses sem o tal sangue nas ventas. mas quando meu endométrio descama, descama com gosto. do tipo de dar cólicas horríveis e semana todinha usando noturno. mas isso não vem ao caso... quero dizer; tenho dias de homem. daqueles em que eu me sinto uma desgraça enorme e ajo o mais prepotente possível. não que isso seja másculo, mas homem tem disso mesmo sem tpm.

eu carrego meu corpo pela sala e atravesso a sacada do meu apartamento, jogo a base ao chão e abraço meus joelhos, como se meios termos bastassem. escondida, atrás do sofázinho da minha mãe, eu fito o canteiro e o canteiro me fita. lá, eu me descasco feito cebola. mas nesses dias eu não choro. em cada capa que eu retiro, procuro um alguém para ver se encaixa, ver se entende, ver se alcança. nada! toda crosta se vai, resta apenas uma mancha de líquido sulfuroso e ninguém. cada pedacinho, uma visão parcial de alguém que me escapuliu. sobra em mim aquela vontade enorme de me dividir e um vazio. os restos e o vazio. não há encaixe, não há encontro.

só assim que eu descubro. não existe par. talvez um quase-par. as pessoas não foram feitas para serem encaixadas. todas, números ímpares, quase se encaixam. os amantes se soldam, os aversos se atritam, os sozinhos sonham com encaixes perfeitos. eu, desviada, me sinto prostituída de tanto não-saber, penso que talvez expressar seja em vão, mas o vão é o que fica sem as cascas. quase-encaixes... a imperfeição torna tudo mesmo suficiente, não é? o cheio dos outros e o vazio seu equilibrados para que não falte espaço para ser e des-ser o tempo inteiro.

sexta-feira, 21 de março de 2008

eu sou escritora




desde sempre
desde antes de nascer
desde quando o espermatozóide disse pro óvulo:


- oi, tudo bem? fiz um poema pra você.

quinta-feira, 13 de março de 2008

nesses dias tão à vácuo...

foto: lily donaldson
se quer saber onde eu coloco minha profundidade
pra não falar que enfio no buraco
jogo na privada e dou descarga
.

quarta-feira, 12 de março de 2008

De maneira poética!


Queria saber quem foi o infeliz que pela primeira vez conotou a poesia como visão bela da palavra... Poesia está para vida tal qual cor está para tinta, existem dias de escuridão. Dias, muitos dias, em que uma nuvem de poeira cola nossas pálpebras e ficamos apenas com o irreal, acreditando que aquele verde da bandeira é o Brasil-multi: multiplicada fauna, multiplicada riqueza, multiplicada esperança, o Brasil de todos.

Crescimento, é essa a palavra, mas o país já é enorme, não é mesmo? Crescer para quê?! O crescimento econômico da China e da Índia nos últimos anos beneficiou a América Latina, o Brasil não precisa se auto-beneficiar... Afinal nós somos um país multi-ético, sem preconceito, sem desigualdades, é por isso que a mulher latino-americana ainda recebe salário entre 20% e 30% menor do que o homem nas mesmas atividades.

É, pessoal, vamos potencializar o jovem do tráfico de drogas! Ele salvará sua comunidade, investimentos na educação de base não. Melhores qualificações e empregos... Quem precisa disso? Nós somos um povo bonito, povo do futebol, povo que samba! Se nada tem, faz um batuque, faz um rebolado, não reclama, não luta, não muda... ginga!

Ainda tem quem tente abrir os olhos, passar um pano úmido na poeira, fitar o lema nacional estirado em mastros, mas ao procurar o verde exuberante encontra uma mancha negra. Feito um buraco, ela parece engolir o losango, o globo e toda a ordem e progresso. Quem tem coragem fita que todo o excesso de esperança virou desespero profano, em que cada passo do sambista é um andar em falso.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008



me senti vidrada
não de êxtase,
mas empacotada.
guardada em lacre
no fundo da prateleira
do setor B.
(tive que gritar o mudo
até exceder o prazo de validade.)

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Fumo e Flores

, sentiu-se úlcera. o corpo contraía a raiva que nenhuma anti-rábica dosaria, enquanto as paredes dos órgãos em resposta iam se corroendo. e pelos buracos ácidos não escorria dor. não. a dor já tinha ido às sucumbas do extremo em dormência. o corpo se liquefazia em ácido e a alma escorria, enfim, liberta.
Karen se sentou. O frio no estômago lhe provocava um terremoto de calor nas bochechas e outro, ainda maior, de desequilíbrio nos pés. Não sabia até que ponto podia ir sozinha, o guarda-roupa vazio e as gavetas reviradas denunciavam: ele levara tudo, menos o desespero. Acendeu um cigarro. "Fumo flores, amor", ele dizia. Esbugalhou suas pétalas e levou o aroma.
O quarto vazio, a teoria nórdica do acaso, " o que há de errado comigo?". A lágrima escorria, "não era a primeira vez", acompanhada. Ao menos suas lágrimas deviam ser acompanhadas, pensou. Outro cigarro, "acho que vou precisar de mais de um maço hoje". Karen era uma mulher independente, "mas ser independente leva a uma série de novas dependências".

Ela se inclinou, desabotoou as sandálias e deixou que os pés escorregassem de encontro ao chão. " Como é bom sentir o chão". Era tudo o que tinha, tudo no que podia confiar. O chão nunca a deixaria. Os pés calejados e antes adormecidos deixavam o frio do piso invadir seu desespero. Congelar seu desespero. " E a calma é o resultado de um calor congelado". "Preciso de terra". " Sentir terra nas ventas".

Como uma sinapse abrupta, ela se levantou, meio que a se recordar de que sabia caminhar, e correu, meio que a se recordar de que não queria esfriar, para o quintal. Tomou um punhado de terra com as mãos e levou às narinas. "Ah, o pó...". Soprou. "Do pó viestes, ao pó retornarás". A terra plana e cai por terra, um breve vôo para repousar onde partiu.
Deixou o corpo desabar, as pernas cederem e os braços se enlaçarem. Queria se ver por dentro. Tragou-se. Sentiu se invadir por fumo próprio e "pulsar". Tinha o coração que bombeava vazio, "apenas poeira". Cósmica, Karen se julgou dona de um astrolábio, "o pegador de estrelas".

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

morrendo assim tão sem jeito, debaixo dos lençóis, embrulhada aos desejos impossíveis.